Cláudia Costin no Equidade.info: dados para uma Educação mais equitativa
Ao assumir a presidência do Equidade.info, Cláudia Costin reforça o compromisso com dados, justiça educacional e políticas públicas que colocam a equidade no centro das decisões.
Escrito por Felipe Soares
08:30 - 25 de junho de 2025

Nem todos os caminhos que levam à educação são lineares. Alguns começam com a memória da guerra, com uma mãe impedida de estudar por ser judia em tempos de perseguição, com o francês como primeira língua antes do português, e com uma frase que atravessa gerações — dita por sua mãe, com convicção e esperança: "A única coisa que ninguém pode tirar de vocês é o que têm na cabeça. Levem a educação a sério."
Foi assim que Cláudia aprendeu que o conhecimento é um abrigo — e também uma ferramenta de transformação. Desde muito cedo, sonhou em ser professora. Após a perda do irmão, seguiu o conselho do pai e cursou Administração. Mas encontrou na Administração Pública uma forma de seguir próxima do que verdadeiramente a movia: a educação.
A trajetória de Cláudia é marcada pela escuta, pelo compromisso com o coletivo e pela coragem de ocupar espaços. Deu aulas na Educação de Jovens e Adultos, foi gestora, pesquisadora, professora universitária, ministra, secretária de Cultura e de Educação, diretora global do Banco Mundial e docente em Harvard. E, em cada etapa, manteve firme uma convicção: a desigualdade não se combate com neutralidade.
“Todo agente público que trabalha com educação deveria ter obsessão por equidade. Dar mais para quem tem menos.”
É com esse espírito que Cláudia Costin chega ao Equidade.info — não apenas como presidenta, mas como uma liderança comprometida com a transformação das políticas educacionais a partir de dados, escuta ativa e justiça redistributiva. Para ela, os números não são apenas estatísticas: são perguntas urgentes da sociedade civil que exigem respostas institucionais.
Essa convicção é resultado de uma atuação concreta. Durante sua gestão na Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Cláudia identificou 155 escolas localizadas em favelas dominadas por milícias. A resposta foi clara: investimento diferenciado. Pagamento adicional para professores, ampliação do tempo integral, incentivos para atrair bons diretores e suporte técnico-pedagógico contínuo. Política pública como resposta concreta ao abandono.
Sua compreensão de equidade é firme e estrutural: “Não existe equidade sem olhar para política pública. A equidade não está apenas dentro de cada escola, mas na rede. Temos que investir e olhar com mais atenção para as escolas e estudantes mais marginalizados.”
Com sensibilidade, Cláudia também alerta para formas de exclusão travestidas de boas intenções. “Muitas vezes usamos um discurso progressista para justificar a exclusão. Como, por exemplo, a falácia de que não devemos incluir crianças com deficiência porque não estamos preparados. Isso parece bacana, mas não é — é exclusão. Temos que incluir e aprender com a inclusão na prática, no desenvolvimento.”
Essa escuta atenta às desigualdades se soma à clareza com que Cláudia nomeia os nós centrais da crise educacional brasileira. “A baixa atratividade da carreira docente, aliada a uma formação que não prepara para a prática. O problema é mais sistêmico que isso, mas esse é o essencial. Precisamos ouvir os professores.”
É a partir dessa escuta — qualificada, ética e comprometida — que ela enxerga o potencial do Equidade.info. “O Brasil precisa se olhar a partir das perguntas que vêm da sociedade civil.”
Para Cláudia, muitos debates sobre educação ainda se sustentam apenas no desejo e na intuição — dimensões importantes, mas insuficientes diante da complexidade das desigualdades educacionais. Por isso, vê no Equidade.info uma ferramenta decisiva: um espaço onde dados, análise e evidências podem orientar políticas públicas mais justas e eficazes.
“A cada pesquisa e levantamento surgem dados essenciais para a construção de políticas públicas. Isso pode informar minha contribuição. Eu quero aprender com esse processo, com as análises, com os territórios — e ajudar na transformação da educação.”
Ela chega ao Equidade.info não apenas para orientar, mas também para se deixar transformar. Quer contribuir com sua experiência na formulação de políticas, mas também se alimentar da inovação metodológica e da inteligência coletiva que o Instituto mobiliza.
Pensar grande, para ela, exige compromisso com o concreto — com o chão da escola, com os desafios dos territórios, com as urgências da equidade real. “Não basta levantar dados. É preciso prepará-los para o desenvolvimento de políticas públicas viciadas em equidade.”
Se pudesse deixar uma marca na sua gestão, Cláudia afirma: “Devemos ter cuidado com visões igualitárias que ignoram as desigualdades. O que precisa ser igual para todos é a expectativa. O apoio precisa ser diferente — e maior — para quem mais precisa.”
Em um país onde a meritocracia ainda serve como cortina para desigualdades estruturais, Cláudia nos convida a escutar o que dizem os dados — mas também o que gritam os territórios. Professores que resistem. Estudantes que persistem. Juventudes que sonham.
“A certeza absoluta é inimiga da verdade. Precisamos aprender com a realidade, com os outros, com a escuta.”
Sua chegada ao Equidade.info marca não apenas uma nova etapa para o Instituto, mas também uma convocação coletiva: transformar evidências em decisões, desigualdades em prioridades e juventudes invisibilizadas em protagonistas da política educacional.
É com imensa honra que recebemos Cláudia Costin como presidenta do Equidade.info. Sua trajetória inspira, sua escuta transforma e sua presença nos fortalece.