Clima de silêncio
O que os estudantes brasileiros realmente sabem sobre mudanças climáticas?
Escrito por Felipe Soares
09:30 - 23 de junho de 2025

Imagem: Equidade.info
Em uma sala quente no interior do Amapá, Ana, de 17 anos, lembra que ouviu falar sobre mudanças climáticas em uma aula de geografia — mas não soube explicar. “Acho que é sobre calor e poluição, né?” , arriscou. A fala dela ecoa na realidade de milhares de estudantes brasileiros.
Entre novembro e dezembro de 2024, o equidade.info ouviu 1.031 estudantes do Ensino Fundamental II e Médio em todo o país. Os dados revelam que 12,3% dizem não saber nada sobre mudanças climáticas. Outros 47,8% já ouviram falar, mas não sabem explicar, enquanto 34,1% afirmam saber apenas o básico. Apenas 5,7% dizem saber muito e conseguir explicar bem o tema.
Esse conhecimento limitado está diretamente ligado ao ambiente escolar. Quando perguntados se os professores incentivam discussões sobre mudanças climáticas em sala de aula, apenas 9,6% responderam “sempre” e 14,5% disseram “frequentemente”. Em contraste, 29,6% responderam “às vezes”, 29,7% “raramente” e 16,6% “nunca” — ou seja, quase metade dos estudantes têm pouco ou nenhum contato com o tema na escola.
A pesquisa também mostra que a maioria dos estudantes não costuma verificar as informações que consome sobre o tema na internet. Apenas 11,6% afirmam “sempre” checar as fontes, enquanto 14,3% fazem isso “frequentemente”. Já 30% disseram fazer isso “às vezes”, 22,9% “raramente” e 21,2% “nunca”. Em um cenário de alta desinformação digital, essa negligência na checagem é um ponto crítico.
Sobre os canais de informação mais utilizados, o Google aparece como principal fonte (57,6%), seguido de Instagram (34%), TikTok (29,3%), YouTube (27%) e, por fim, revistas, jornais e rádio (23,4%).
No Norte, região que sediará a COP30, os resultados são interessantes. Apenas 6% dos jovens disseram não saber nada sobre mudanças climáticas, 40% já ouviram falar mas não sabem explicar, 42% conseguem explicar de forma básica e 11% dizem saber muito e explicar bem — o dobro da média nacional. Quando perguntados sobre o incentivo de professores para debater o tema em sala, 6% responderam “sempre”, 25% “frequentemente”, 41% “às vezes”, 18% “raramente” e apenas 9% “nunca”. Esses números sugerem que, às vésperas da COP30, há maior mobilização em uma região historicamente excluída dos grandes debates ambientais.
De volta ao Amapá, Ana agora participa de um projeto de iniciação científica sobre queimadas e qualidade do ar. “A gente está aprendendo que isso tudo tem a ver com mudanças climáticas. Agora eu quero entender mais. E falar sobre isso com todo mundo.”
Porque, quando o clima muda, a educação também precisa mudar.
*Atenção: A história, todos os nomes e personagens retratados nesta produção são fictícios. Nenhuma identificação com pessoas reais (vivas ou falecidas) é intencional ou deve ser inferida.