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Desvendando o Protagonismo Juvenil no Brasil: O Impacto da Educação na Participação Cívica
Uma Perspectiva Comparativa das Oportunidades Educacionais e Extracurriculares em Escolas Públicas e Privadas
Escrito por Nathaly Shige
14:30 - 26 de Julho de 2024

Foto: freepik.com
Marina vive em uma cidade tranquila no interior do Rio Grande do Norte. Na escola pública em que estudava, Marina encontrava-se diante de um dilema: suas aspirações esbarravam nas limitações do ambiente acadêmico. As oportunidades para se envolver em atividades extracurriculares e projetos sociais eram escassas. A escola carecia de recursos e de apoio para oferecer iniciativas que permitissem aos alunos explorar seus talentos e interesses. Para Marina, isso era mais do que uma mera frustração. Ela se via constantemente questionando: como poderia contribuir para sua comunidade sem a plataforma adequada para isso? A situação que Marina vivencia não é singular, na verdade, é experienciada por milhares de jovens ao redor do Brasil.
Os dados a seguir, que mostram esse cenário no Brasil, foram coletados pelo Equidade.info em agosto de 2023, em escolas representativas do Ensino Básico brasileiro, nos Estados do Pará (PA), Mato Grosso do Sul (MS), Rio de Janeiro (RJ), Rio Grande do Norte (RN) e Rio Grande do Sul (RS). A pesquisa buscou compreender o nível de protagonismo jovem e participação em atividades sociais entre estudantes dessas regiões.
Os resultados documentam que 83% dos alunos afirmam serem compassivos e preocupados com o bem-estar dos outros. No entanto, quando se trata de participação em atividades como associações estudantis, voluntariado e ações sociais, e atividades em organizações cívico-políticas (movimentos sociais, conselhos de bairro, partidos políticos e etc.), os números são muito mais baixos. Em 2023, apenas 24% dos alunos participaram de associações estudantis (grêmio estudantil, líder de classe), 15% se envolveram em voluntariado e ações sociais (ONGs) e apenas 18% participaram de atividades cívico-políticas.
No Brasil, o baixo índice de protagonismo juvenil pode ser atribuído a uma série de fatores complexos que afetam os jovens em diferentes contextos sociais e educacionais. Um dos principais motivos é a falta de acesso e incentivo a atividades extracurriculares e de engajamento cívico nas escolas, especialmente nas escolas públicas.
Os dados revelam discrepâncias significativas entre o ensino público e privado no que diz respeito ao envolvimento dos alunos em atividades extracurriculares e sociais. Enquanto 44% dos alunos de escolas privadas participaram de associações estudantis, apenas 20% dos alunos de escolas públicas o fizeram. No caso do voluntariado e ações sociais, a disparidade também é evidente, com 31% dos alunos de escolas privadas participando em comparação com apenas 12% dos alunos de escolas públicas. Essas diferenças podem ser atribuídas a uma série de fatores, incluindo disponibilidade de tempo para se dedicar a essas atividades – que, entre os alunos mais pobres, compete com aquele alocado para deslocamento, sobretudo fora dos bairros mais centrais, ou para auxiliar a família nas atividades domésticas ou trabalhando para complementar a renda. Para além dos fatores individuais, contudo, figuram também diferenças de recursos disponíveis para a realização dessas atividades pela escola, de apoio institucional e de incentivo por parte dos professores.
Para além da participação, a discrepância de conhecimento sobre a existência dessas atividades entre alunos de diferentes perfis também é considerável. De acordo com os dados coletados pelo Equidade.info, uma parcela significativa de alunos de escolas públicas respondeu "Não sei o que é" quando questionados sobre sua participação em atividades extracurriculares. Enquanto apenas 4% dos alunos de escolas privadas responderam dessa forma em relação à participação em associações estudantis, surpreendentes 12% dos alunos de escolas públicas admitiram não saber do que se tratava essa atividade. Em relação ao voluntariado e ações sociais, apenas 3% dos alunos de escolas privadas desconhecem o que é e alarmantes 16% dos alunos de escolas públicas afirmaram não saber do que se trata. Se tratando de atividades cívicas-políticas, enquanto 8% dos alunos de escolas públicas responderam "Não sei o que é", apenas 1% dos alunos de escolas privadas deram essa resposta. Isso sugere que a falta de estímulo, divulgação e recursos disponíveis nas escolas públicas podem contribuir para o desconhecimento dos alunos sobre essas oportunidades de engajamento social.
Esses dados lançam luz sobre a importância do protagonismo jovem e do envolvimento em atividades sociais para o desenvolvimento dos estudantes e para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. Enquanto os números indicam que muitos alunos têm interesse em fazer a diferença, é essencial que sejam criadas mais oportunidades e recursos para apoiar e incentivar esse engajamento, especialmente nas escolas públicas. Além disso, a disparidade entre escolas públicas e privadas levanta questões sobre a equidade no acesso a essas oportunidades.
Imagine um cenário onde Marina recebesse suporte, apoio e recursos dentro da sua escola para se engajar em ações de protagonismo juvenil. Além de desenvolver habilidades sociais e cívicas essenciais, como liderança e empatia, Marina ganharia confiança em suas próprias capacidades, fortaleceria sua autoestima e encontraria um propósito mais profundo em suas atividades. Ao participar ativamente de projetos que fazem a diferença em sua comunidade, Marina teria a oportunidade de ampliar suas perspectivas, construir redes de apoio e colaboração e, mais importante ainda, deixar um impacto positivo duradouro na vida das pessoas ao seu redor. Isso não apenas a capacitaria como uma jovem líder, mas também a inspiraria a continuar buscando maneiras de contribuir para um mundo melhor, repleto de oportunidades e solidariedade.
É fundamental que sejam implementadas políticas e programas que garantam que todos os alunos, independentemente de seu nível socioeconômico, tenham acesso igualitário a experiências que promovam o desenvolvimento de habilidades de liderança, empatia e cidadania ativa. É necessário um esforço conjunto de educadores, governantes e comunidades para criar um ambiente que valorize e promova o protagonismo jovem, capacitando os estudantes a se tornarem agentes de mudança em suas comunidades e no mundo em geral. Somente assim poderemos construir um futuro mais inclusivo e sustentável para todos.
*Atenção: Todos os nomes e personagens retratados nesta produção são fictícios. Nenhuma identificação com pessoas reais (vivas ou falecidas) é intencional ou deve ser inferida.