mobile menu icon
logo equidade.info

Em quem os jovens brasileiros confiam?

Pesquisa do Equidade.info revela altos índices de confiança na escola — e ceticismo em relação a outras instituições como a imprensa, o Congresso e a Presidência da República.

Escrito por Felipe Soares

10:00 - 16 de Maio de 2025

hero-blog-image

Foto: Fundacao FEAC

“Eu não confio em presidente nenhum. Parece que é tudo feito pra gente se frustrar.” Foi assim que Lucas, de 17 anos, estudante da rede pública em Pernambuco, respondeu quando perguntado sobre o que pensa da Presidência da República. A pergunta feita foi simples: “Quanto você confia nessas instituições? Responda com 'não confio', 'não confio nem desconfio', 'confio’ ou 'não conheço essa instituição’.” Para ele, os líderes mudam, mas os problemas continuam — e essa desconfiança vem de longe. A fala de Lucas ecoa a percepção de jovens do Ensino Médio de todos os estados do Brasil e do Distrito Federal, ouvidos pelo Instituto Equidade.info entre março e abril de 2024: 33,4% disseram não confiar na Presidência, enquanto apenas 29,9% afirmaram confiar. Os dados mostram que, apesar de crescerem em um contexto de hiperconexão e participação digital, muitos estudantes seguem distantes — ou até mesmo desconectados — das instituições que estruturam a democracia brasileira.

A escola, por outro lado, se destaca como exceção. 75,4% dos jovens afirmam confiar na escola, fazendo dela a instituição mais bem avaliada da pesquisa. Entre os meninos, esse número sobe para 79,6%. Já entre as meninas, apesar de a maioria confiar (69,2%), 24,4% afirmam “não confiar nem desconfiar”, o que pode refletir experiências marcadas por silenciamento, julgamento ou falta de acolhimento. Ainda assim, os dados apontam a escola como espaço central de legitimidade e vínculo institucional para a juventude brasileira.

Outras instituições, no entanto, não desfrutam do mesmo prestígio. A imprensa, por exemplo, é uma das mais questionadas: 40,7% dos jovens afirmam não confiar, e apenas 15,8% dizem confiar. Outros 34,5% não confiam nem desconfiam. Há ainda um número expressivo (9,6%) que não sabe o que é a imprensa — um dado que chama atenção para a necessidade de diálogo entre os meios de comunicação e o público jovem.

A confiança no Congresso Nacional também é dividida: 28,9% dos estudantes dizem confiar, enquanto 25,5% não confiam. O cruzamento por raça revela nuances importantes: 25,9% dos jovens negros afirmam não confiar na instituição, frente a 21,9% dos jovens brancos. Isso pode refletir diferentes formas de se relacionar com o Estado, expectativas de representação e percepção de políticas públicas.

O Supremo Tribunal Federal apresenta um quadro semelhante: 33% dos estudantes confiam, mas 23,5% não confiam, 26,7% não confiam nem desconfiam e 16,9% afirmam não saber o que é o STF. O dado mais alarmante, no entanto, vem da Presidência da República: com um terço dos jovens declarando desconfiança direta, a instituição parece ter perdido parte significativa de sua legitimidade entre a juventude.

Diante desse cenário, a escola se reafirma como ponto de estabilidade e confiança — mas também como única ponte visível entre o jovem e o Estado. Isso é potente, mas também preocupante: se a escola é o único espaço onde a juventude ainda acredita, é preciso que ela também assuma o papel de apresentar essas instituições, discutir seus papéis e fortalecer o senso de cidadania.

Lucas, que hoje diz não confiar em presidente nenhum, também contou que aprendeu sobre a Constituição numa aula que o fez pensar diferente. “Pela primeira vez, eu entendi que eu também faço parte disso tudo.” A história dele mostra que o problema não é só a desconfiança — é também a falta de acesso a uma educação cívica que torne essas instituições compreensíveis, acessíveis e, sobretudo, transformáveis.

Se os alunos confiam na escola, que ela os ajude a compreender o mundo. A confiança é o começo, mas formar cidadãos conscientes e críticos exige mais: exige que a escola encoraje o entendimento, o debate e a ocupação ativa desses espaços. Afinal, para que a democracia funcione, é preciso mais do que saber que ela existe — é preciso saber como ela se constrói.

*Atenção: A história, todos os nomes e personagens retratados nesta produção são fictícios. Nenhuma identificação com pessoas reais (vivas ou falecidas) é intencional ou deve ser inferida.