No início do ano letivo, Ana entrou na escola com um sorriso tímido e uma mochila cheia de expectativas. Os corredores pareciam agitados, os professores acolhedores e os colegas animados. Mas, com o passar das semanas, algo começou a pesar. Será que todos se sentem acolhidos como ela esperava? Será que os professores conseguem lidar com os desafios da adolescência? E os conflitos que explodem nas salas de aula — serão percebidos e enfrentados por todos?

Essas questões ecoam nos dados coletados pelo Equidade.info, que, entre março e abril de 2024, ouviu gestores, professores e alunos de todo o Brasil para entender como se vive a rotina escolar sob diferentes olhares. As respostas revelam percepções que, embora majoritariamente positivas, podem esconder zonas de tensão.

93,5% dos gestores afirmam que a escola acolhe bem os estudantes, e 92,9% dos professores compartilham essa visão. Mas a opinião dos alunos revela um contraste: apenas 81,6% sentem esse acolhimento, 7,5% relatam não se sentir acolhidos e 10,9% preferem não opinar. Esse dado sugere que, apesar das boas intenções e da percepção institucional, o acolhimento nem sempre chega ao aluno de forma concreta.

Quando analisamos as relações entre os estudantes, a maioria dos gestores (86,8%) considera que elas são positivas. No entanto, quase metade dos professores (46,5%) admite que há muitas situações de conflito, enquanto 33,9% reconhecem a existência de indisciplina. Os próprios alunos reforçam essa percepção: 49,8% concordam que há muitas situações de indisciplina, e 31,7% apontam a agressividade como problema. Esses números revelam uma realidade complexa, na qual o ambiente escolar nem sempre é tão harmônico quanto a gestão imagina — um lembrete de que as tensões do cotidiano escolar podem ser invisíveis para quem não as vive de perto.

No que diz respeito à capacidade de lidar com as mudanças da adolescência, 63,9% dos gestores acreditam que os professores estão preparados, e 64,9% dos docentes confirmam essa confiança, 8,9% discordam e 26,1% nem concordam nem discordam. Isso revela que, embora haja preparo, muitos profissionais sentem que enfrentam os desafios sem recursos ou suporte suficientes, o que impacta diretamente na qualidade do ambiente escolar.

Quando os alunos foram perguntados se se sentem livres para ser quem realmente são na escola, 76,6% responderam que concordam, 10% discordam e 13% não concordam nem discordam. Esse dado escancara uma questão importante: ainda que a maioria se sinta acolhida, há um grupo significativo que carrega silêncios e medos, sentindo-se invisível ou pressionado a se encaixar em expectativas alheias.

A soma desses dados revela que a escola, apesar de ser percebida como um espaço acolhedor por muitos, ainda enfrenta desafios reais para ser um ambiente seguro e aberto para todos. E esses desafios não são apenas estatísticas: são histórias como a de Ana, que todos os dias carregava a dúvida de por que tantos colegas preferiam o silêncio ao pedido de ajuda. Anos depois, Ana ainda se lembra daquele sentimento. Não era sobre notas ou tarefas. Era sobre ser vista, ser ouvida. Era sobre a escola ter lhe perguntado, de verdade: “Como você está se sentindo aqui?”

Atenção: A história, todos os nomes e personagens retratados nesta produção são fictícios. Nenhuma identificação com pessoas reais (vivas ou falecidas) é intencional ou deve ser inferida.

*Atenção: A história, todos os nomes e personagens retratados nesta produção são fictícios. Nenhuma identificação com pessoas reais (vivas ou falecidas) é intencional ou deve ser inferida.