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Entre o Otimismo e a Incerteza: Expectativas dos Professores Brasileiros sobre o Futuro de seus Alunos

Com 57% dos professores confiantes no futuro profissional de seus alunos, a visão otimista é confrontada por desafios que ainda limitam o potencial de muitos estudantes

Escrito por Nathaly Shige

15:30 - 20 de Setembro de 2024

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Foto: freepik.com

Na educação, a visão que os professores têm sobre o potencial de seus alunos pode ser um fator decisivo no desenvolvimento acadêmico e profissional dos estudantes. Essa crença molda a abordagem pedagógica e o ambiente de aprendizagem, influenciando diretamente a motivação e o sucesso dos alunos. No Brasil, os dados sobre a percepção dos docentes revelam uma imagem que pode ser interpretada de forma dual: otimista sob certos aspectos, mas também indicativa de desafios persistentes. Essas visões ajudam a iluminar o caminho para o futuro de muitos estudantes.

João Victor Hasse, um jovem de baixa renda do Paraná que conquistou uma bolsa integral na universidade de Haverford, nos Estados Unidos, atribui boa parte de seu sucesso à professora Rosimari, de português e literatura. Desde o início, ela acreditou nele de uma maneira que mudou sua vida, afirmando que ele tinha um futuro brilhante à sua frente. Quando João, exausto pela rotina intensa de estudos e trabalho, caía de sono durante as aulas, ela o compreendia. Ao invés de repreendê-lo, ela permitia que ele descansasse, sabendo que ele estava lutando por algo maior. Além disso, Rosimari o apoiou emocionalmente e academicamente, escrevendo recomendações que abriram as portas para sua jornada internacional. Para João, o apoio dessa professora foi mais do que acadêmico — foi um abraço acolhedor em um momento de necessidade, permitindo que ele acreditasse em si mesmo.

Em pesquisa conduzida pelo Equidade.info em agosto de 2023, realizada em escolas representativas do Ensino Básico brasileiro nos estados do Pará (PA), Mato Grosso do Sul (MS), Rio de Janeiro (RJ), Rio Grande do Norte (RN) e Rio Grande do Sul (RS), os professores demonstraram expectativas mistas sobre o desempenho e a trajetória futura de seus estudantes. Quando perguntados se "poucos alunos conseguirão destaque em sua profissão no futuro", 57% dos professores discordaram dessa afirmação. Esse dado pode ser visto de duas formas: por um lado, há uma percepção majoritária de que muitos alunos têm potencial para se destacar; por outro, a ausência de uma unanimidade revela que há incertezas sobre os desafios que esses jovens enfrentarão. O sucesso profissional futuro depende de vários fatores — como o mercado de trabalho, estrutura familiar e o acesso a redes de oportunidades —, sendo que nem todos esses fatores são diretamente influenciados pela escola.

Quando perguntados se "seus alunos serão bem-sucedidos em suas carreiras", 49,3% dos professores concordaram. Esse percentual pode ser interpretado como um reflexo do equilíbrio entre a confiança dos professores nas capacidades dos estudantes e as dificuldades estruturais que esses mesmos alunos enfrentam. Embora metade dos docentes acredite no sucesso futuro de seus alunos, a outra metade parece reconhecer que fatores externos, muitas vezes fora do controle da escola, podem dificultar esse caminho. A análise dessa resposta nos leva à reflexão sobre o que mais precisa ser feito, além do ambiente escolar, para que todos os professores possam ter expectativas mais elevadas em relação aos seus alunos.

A crença na capacidade de aprendizado dos alunos é um dos pilares mais sólidos da visão dos professores. Aproximadamente 85% dos docentes concordam que "seus alunos têm plena capacidade de aprender". Esse dado reflete a confiança dos professores nas habilidades inatas dos alunos. No entanto, essa confiança por si só pode não ser suficiente. Parte do desafio é como essas expectativas são percebidas e internalizadas pelos próprios alunos. Cerca de 18,2% dos alunos concordam com a afirmação "se você não é bom em matemática, nunca será", e aproximadamente 58% acreditam que "inteligência é uma característica fixa". Esses números indicam que, apesar da confiança dos professores no potencial dos alunos, muitos estudantes ainda têm uma visão limitante de suas próprias capacidades.

Ao abordar a questão de se "a maior parte dos seus alunos conseguirá destaque em sua profissão no futuro", 54% dos professores concordaram. Embora esse dado demonstre otimismo, ele também reflete um equilíbrio entre a confiança no potencial dos alunos e o reconhecimento de que o ambiente externo apresenta obstáculos significativos. O padrão de respostas em torno de 50% nos questiona: o que seria necessário para que essa confiança fosse ampliada e compartilhada por todos os docentes?

Na pergunta sobre a capacidade dos alunos de compreender o conteúdo ensinado, 60% dos docentes discordaram da afirmação "poucos alunos conseguem entender as coisas que eu ensino". Isso sugere que os professores acreditam na capacidade cognitiva de seus alunos, mas cabe avaliar como essa percepção é traduzida na prática pedagógica e no apoio direto que os alunos recebem para superar dificuldades. Finalmente, 91% dos professores discordam da afirmação de que "seus alunos têm pouca capacidade de aprender". Esse resultado reflete uma visão quase unânime da capacidade dos estudantes e reforça a importância de um ambiente educacional que acolha as diferenças e esteja preparado para oferecer oportunidades a todos os alunos, independentemente de suas origens ou desafios pessoais.

A visão positiva — ainda que cercada por certas ressalvas — dos docentes sobre seus alunos desempenha um papel vital no ambiente educacional. A crença na capacidade de aprendizado e no potencial futuro dos estudantes é essencial para criar um espaço onde desafios são enfrentados com coragem, e o sucesso é visto como uma meta alcançável. Contudo, essa confiança precisa ser combinada com políticas educacionais inclusivas e com o compromisso da sociedade em garantir que todos tenham as mesmas oportunidades para prosperar no futuro.

Tatiana Yuanaga Shige, professora de ensino infantil na rede pública de São Paulo, fala sobre a essência do que é ser professor: acreditar nos alunos de corpo e alma. Para ela, ensinar não se limita a passar conteúdo, mas a criar seres humanos conscientes, empáticos e preparados para o mundo. “Mesmo quando um aluno está falhando em suas notas, o verdadeiro professor não desiste. Ele olha além das dificuldades e tenta entender o que está acontecendo na vida daquela criança.” Tatiana vê o papel do professor como o de um guia que não apenas ensina, mas cuida, que acredita no potencial de cada aluno, assim como uma mãe acredita no filho, independentemente dos desafios.

*Atenção: Todos os nomes e personagens retratados nesta produção são fictícios. Nenhuma identificação com pessoas reais (vivas ou falecidas) é intencional ou deve ser inferida.