O que Pais e Responsáveis de Crianças até 6 Anos Dizem Sobre os Cuidados na Primeira Infância

Escutar quem cuida é o primeiro passo para transformar a realidade da educação infantil no Brasil

Escrito por Felipe Soares

15:00 - 30 de junho de 2025

hero-blog-image

Foto: Isabella Luiza Mori

O Equidade.info é uma rede de pesquisa dedicada a enfrentar desigualdades que permanecem invisíveis nos dados educacionais tradicionais do Brasil. Embora o país produza muitas estatísticas sobre suas redes de ensino, temas como raça, território, vulnerabilidade, deficiência, recomposição de aprendizagens e violência escolar ainda são pouco explorados com profundidade, frequência e capilaridade. Foi para mudar esse cenário que passamos a coletar dados diretamente com quem vive a escola, em aproximadamente 200 instituições públicas e privadas de todo o país — alunos, professores e gestores — transformando escuta qualificada em decisões mais justas.

Mas sabemos que a equidade não começa no Ensino Fundamental. Ela precisa nascer junto com as crianças. Por isso, estamos dando um passo adiante — e revelamos aqui, pela primeira vez no blog, uma outra frente de atuação do Equidade.info que promete transformar radicalmente a forma como se pensa a política educacional desde os primeiros anos de vida.

Começamos recentemente a acompanhar, de forma contínua e representativa, as experiências de pais, mães e responsáveis por crianças de 0 a 6 anos. Essa é a primeira vez que uma rede nacional se dedica a escutar com regularidade, profundidade e abrangência territorial as famílias da primeira infância em todos os estados do país — contemplando tanto os que têm acesso à creche e pré-escola quanto os que ainda estão fora do sistema educacional.

Essa expansão reafirma nosso compromisso de tornar visíveis as realidades que importam — do chão da escola ao colo de quem cuida. A escuta é feita por meio de bots de WhatsApp, com questionários curtos e acessíveis, aplicados seis vezes por ano, abordando temas como o bem-estar de quem cuida, o desenvolvimento das crianças, as condições de trabalho, as dificuldades financeiras e as rotinas de cuidado. É uma pesquisa inovadora não apenas pela tecnologia e frequência, mas também por colocar no centro da produção de dados quem geralmente é deixado de fora: as famílias.

E essa inovação vem acompanhada de uma missão: fazer com que os dados gerados sejam devolvidos de forma útil, clara e prática — tanto para as instituições quanto para as próprias famílias. Queremos que as informações sirvam como base para políticas públicas mais sensíveis às realidades dos territórios e para decisões mais conscientes dentro de casa.

Foi dentro dessa nova frente que surgiu também uma ideia inédita: o nosso primeiro Concurso de Respostas, realizado entre abril e maio de 2025. Nesta edição, ao final do questionário, convidamos os participantes a responderem uma pergunta aberta sobre os cuidados com as crianças pequenas.

A proposta era valorizar a escuta afetiva e criativa das famílias, incentivando-as a compartilhar experiências, dicas e aprendizados do dia a dia. Como forma de reconhecimento, oferecemos vale-presentes de R$100,00 para as respostas mais criativas.

A seguir, apresentamos algumas das histórias que mais nos inspiraram — com sensibilidade, humor e originalidade. Entre elas, estão as 5 vencedoras, que serão anunciadas em breve.

Logo no início, um dos responsáveis trouxe uma ideia lúdica e cheia de afeto: transformar o aprendizado do alfabeto em um jogo divertido, nomeando os coleguinhas da creche a partir das letras do brinquedo do filho.

"Elaborar situações de conforto para a criança, de forma que ela possa se sentir tranquila para demonstrar suas emoções. Adoro nomear os amiguinhos da creche com as letras do alfabeto. Certa vez, com um brinquedo, ele apontava as letras e eu dizia nomes dos coleguinhas. Ele adorou, acertei todas!"

Outro responsável destacou a importância de transformar a rotina em um espaço de aprendizado e amor, mesmo nos dias mais desafiadores, com brincadeiras na cozinha e na pia.

"Aqui são três pequenos e muitas aventuras! Transformo o caos do dia a dia em brincadeira: lavar louça vira espuma divertida, cozinhar vira aula de matemática e amor. Não é fácil, mas cada desafio é superado com fé, criatividade e carinho."

Entre as respostas, um responsável trouxe uma reflexão profunda sobre empatia, lembrando das experiências da própria infância para entender e humanizar a relação com a criança.

"Tem dias que nada dá certo, rsrs. Mas tento me conectar com meu filho, explicar o porquê das coisas e lembrar de como me sentia quando era criança. Humanizo a relação e mostro que também erro e aprendo. Nada de máscara de perfeição!"

Também houve quem sugeriu transformar cada dia em um verdadeiro show, com episódios de desenho animado encenados com os brinquedos e muita música para espantar o caos.

"Transformo cada momento em um mini episódio de desenho animado. Dou vozes aos brinquedos, enceno peças com meias e canto no banho. Quando o caos vem, conto até 10 (ou até a criança deixar!) e respiro. A criatividade é meu superpoder!"

Outro participante compartilhou a experiência de viver a comunicação além das palavras, mostrando como os gestos, sorrisos e o apoio profissional podem criar laços poderosos com a criança.

"Meu filho não é verbal, mas entende tudo. Converso sempre com ele, pergunto o que fez e ele ri. Com a comunicação alternativa e o apoio da fonoaudióloga, temos nos conectado cada dia mais. É um desafio e uma surpresa diária!"

Na casa de outro responsável, a rotina é repleta de energia: pintura, futebol e muita dança, celebrando o movimento e a alegria.

"Sentamos para pintar, jogamos bola na frente de casa, dançamos muito Just Dance no YouTube. O que importa é se divertir juntos!"

Em outro lar, o quintal vira parque, com lama e mangueira, garantindo risadas e lembranças inesquecíveis.

"Faço um buraco na terra no quintal, encho de água e deixo as crianças brincarem na lama. Depois lavam na mangueira e vão para o banho. Felicidade pura e sem brigas!"

Um responsável mostrou como as tarefas domésticas também podem ser momentos de cuidado e diversão, envolvendo o filho na limpeza de forma segura e divertida.

"Incluo meu bebê na limpeza. Enquanto esfrego o banheiro, ele brinca com um balde d’água e a mangueirinha do chuveiro. Na pia, ele me ajuda com a louça, com cuidado e segurança. E terminamos com um banho divertido!"

Outra casa se transforma em restaurante ou parque de diversões, com brincadeiras criativas e muita imaginação.

"Invento brincadeiras: restaurante na hora do jantar, piscina na cama com pelúcias e cobertores. É um verdadeiro parque de diversões em casa!"

E, para fechar, um responsável compartilhou um ritual de carinho, com massagens, historinhas e músicas suaves para acalmar e fortalecer o vínculo com a criança.

"Quando meu bebê está inquieto, criamos a ‘Hora do Carinho’: massagens com óleos naturais, historinhas e músicas suaves. Ele fica mais tranquilo e até a imunidade parece reforçada!"

Essas respostas mostram que, mesmo diante dos desafios, os responsáveis encontram formas criativas e amorosas de tornar o cuidado com as crianças um momento especial. É escutando essas vozes que podemos construir políticas públicas mais sensíveis, eficazes e conectadas com a realidade das famílias brasileiras.