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Palavras em Movimento: Investigando Hábitos de Leitura e a Influência do Ambiente Educacional

Desigualdades no acesso a livros entre escolas públicas e privadas revelam a necessidade urgente de promover a leitura e equidade educacional.

Escrito por Nathaly Shige

15:47 - 05 de Março de 2024

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Foto: freepik.com

Em uma comunidade pequena do interior de São Paulo, Miguel, um jovem ávido por conhecimento, tem seu processo de aprendizagem limitado pela escassez de livros e bibliotecas. A única forma que Miguel poderia acessar esses recursos seria na escola do seu bairro. Apesar disso, a mesma se encontra fechada há anos por falta de verba para manutenção. Miguel é apenas um dos milhares de estudantes que enfrentam esse mesmo desafio, como veremos no artigo a seguir.

Em um mundo em constante evolução, a leitura continua sendo uma habilidade essencial. No entanto, dados recentes coletados pelo Equidade.Info entre junho e julho de 2023 que contou com participação de escolas nos estados do Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte e Pará, revelam disparidades significativas nos hábitos de leitura entre alunos de escolas públicas e privadas. Esses números nos provocam a refletir sobre a influência do ambiente educacional no acesso à leitura e sobre seu impacto na formação dos indivíduos.

Uma parcela significativa dos alunos entrevistados pela pesquisa – alarmantes 37% – admitiu não ter lido nenhum livro nos últimos 12 meses, consistente com lacunas no estímulo à leitura na escola e em casa, com escassez de livros e materiais de apoio para prática mais recorrente, ou uma combinação das duas coisas. Essa constatação reforça a importância de iniciativas para promover a alfabetização e o gosto pela leitura. 40% dos leitores relataram ter lido até 3 livros nos últimos 12 meses; 13% leram de 4 a 6 livros no mesmo período; e somente 8% leram 7 ou mais livros.

Os dados da pesquisa sugerem também que o ambiente escolar desempenha um papel fundamental na democratização do acesso à livros. A maioria dos alunos, cerca de 60%, têm na escola a sua fonte principal de acesso a livros.

Pior, o acesso a livros é muito desigual entre alunos de escolas públicas e privadas. Enquanto apenas 24,7% dos estudantes de escolas privadas afirmam não ter lido nenhum livro nos últimos 12 meses, essa cifra é de 41% entre alunos de escolas públicas. Essa diferença, que pode ser atribuída a diversos fatores, de recursos financeiros a estrutura educacional até a variedade de acesso à livros em diferentes ambientes, deveria estar no centro do debate sobre os recursos e oportunidades disponíveis em diferentes contextos educacionais.

A disparidade no acesso a livros entre alunos de escolas públicas e privadas pode ter consequências significativas. Estudantes que têm acesso limitado à leitura podem enfrentar desafios no desenvolvimento de habilidades cognitivas, criatividade e compreensão textual. Se não abordadas adequadamente, essas disparidades podem contribuir para a perpetuação de desigualdades sociais, afetando o acesso a oportunidades educacionais e profissionais. Para mitigar esses impactos, é crucial implementar políticas educacionais que visem equalizar o acesso à leitura, garantindo que todos os alunos, independentemente da instituição de ensino, tenham oportunidades iguais para explorar o mundo dos livros. Investir em políticas educacionais inclusivas e equitativas é essencial para garantir que todos os alunos tenham acesso igualitário aos benefícios da leitura.

Miguel, o aluno do início do artigo, personifica a realidade de muitos estudantes em escolas públicas. Se os problemas destacados forem solucionados, podemos vislumbrar um futuro diferente para Miguel. Com políticas educacionais equitativas, ele teria acesso a uma variedade de livros, abrindo as portas para um mundo de conhecimento e oportunidades. É necessário abordar a falta de hábito de leitura não apenas como um problema estatístico, mas sim como uma oportunidade de transformação para jovens como Miguel.

*Atenção: Todos os nomes e personagens retratados nesta produção são fictícios. Nenhuma identificação com pessoas reais (vivas ou falecidas) é intencional ou deve ser inferida.