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O que pensam alunos e professores sobre participação estudantil em instituições políticas?

Pesquisa do Equidade.info documentou que menos de ⅔ dos alunos vê a política estudantil com bons olhos; professores da rede pública são duas vezes mais favoráveis que os da rede privada

Escrito por Felipe Soares

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Foto: Eugoverno

Segundo o Ministério da Educação, o engajamento dos estudantes em instituições políticas e representativas é essencial para o fortalecimento da democracia e para a compreensão dos seus direitos e deveres civis. Participar em grêmios e associações ainda permite que estudantes manifestem suas opiniões, influenciem decisões locais e contribuam para a construção de uma sociedade mais alinhada com as suas aspirações.

Dito isto, a participação política ainda durante o Ensino Básico ainda é alvo de controvérsias. De acordo com um mapeamento realizado pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, em parceria com a Iniciativa Nós, o Projeto Seta - Sistema Educacional Transformador e Antirracista - e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), baseado em dados desagregados do Censo Escolar 2021, apenas 12,3% das escolas públicas do Brasil possuíam grêmio estudantil. Esse dado levanta um questionamento: atividades como essa deveriam ser incentivadas nas escolas? O que pensam os estudantes brasileiros sobre isso?

Para responder a essa questão, o Equidade.info realizou uma pesquisa entre março e abril de 2024, com uma amostra representativa de estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio nos 26 Estados brasileiros e no Distrito Federal. No total, 1.466 estudantes foram questionados sobre se a escola deve ou não incentivar a participação em instituições políticas e representativas (grêmios, associações, partidos, sindicatos etc.).

Eduardo, aluno de Ensino Médio em Manaus (AM), acredita que esse tipo de envolvimento pode prejudicar seu desempenho acadêmico, pois reduziria seu foco nos estudos para o ENEM. Até que ponto essa percepção reflete a opinião dos demais estudantes brasileiros?

Os dados coletados mostram que 63,8% dos estudantes concordam que a escola deve incentivar a participação em instituições políticas e representativas; 22,4% discordam e 13,7% não têm opinião formada. Entre os estudantes de escolas públicas, o nível de concordância é maior (65,2%) e a taxa de indecisão menor (12,3%), quando comparados aos alunos de escolas privadas (46,8% e 30,2%, respectivamente).

Outro dado relevante é que estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental apresentam os maiores índices de discordância (26,6%), enquanto essa taxa é menor entre alunos do Ensino Médio (16,5%). Isso sugere que a importância percebida da participação política aumenta ao longo do ciclo escolar, conforme o aluno se aproxima da idade legal para votar. Ainda assim, a concordância ainda é longe de ser universal – o que sugere que a experiência escolar pode ser distante da ideia de educação integral.

Entre os professores, 93,2% dos docentes de Ensino Médio concordam que a escola deve incentivar essas atividades; no Ensino Fundamental essa taxa é um pouco menor, 88,2%. Um dado que chama a atenção é a diferença entre professores da rede privada e da rede pública: na rede privada, há um maior nível de discordância (30,2%) e de indecisão (23%) em comparação aos professores das escolas públicas, onde a taxa de discordância é apenas 10,2%. Entender melhor as fontes de resistência entre os professores e explorar estratégias para promover a educação integral – inclusive através da participação estudantil nas instâncias representativas locais, na escola e fora dela – pode impactar a formação de estudantes como Eduardo. Afinal, o engajamento político e representativo não é um obstáculo ao aprendizado, mas sim, uma ferramenta valiosa para o seu crescimento acadêmico e social, e para sua inserção numa sociedade democrática.

*Atenção: A história, todos os nomes e personagens retratados nesta produção são fictícios. Nenhuma identificação com pessoas reais (vivas ou falecidas) é intencional ou deve ser inferida.