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O que o Pé-de-Meia revela sobre sonhos e realidades?

Pesquisa realizada pelo Equidade.info com estudantes do ensino médio público de todos os estados brasileiros revela que, mesmo entre aqueles que ainda não recebem o benefício, o Pé-de-Meia já inspira planejamento, desejo de poupar e sonhos de futuro.

Escrito por Felipe Soares

15:00 - 02 de Maio de 2025

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Foto: Ricardo Stuckert / PR

“Se eu guardar tudo até o fim do ensino médio, acho que consigo pagar o cursinho e comprar meu primeiro notebook.” É assim que Paula, de 15 anos, do interior do Pará, fala sobre o Pé-de-Meia — mesmo sem ainda receber o benefício. Sua fala ecoa a de muitos outros jovens: 51,3% dizem conhecer o programa, mas ainda não são beneficiários, e mesmo entre eles, o interesse é evidente — 81,2% afirmam que gostariam de receber os incentivos. A pesquisa, realizada pelo Equidade.info entre setembro e outubro de 2024 (mesmo ano da implementação do projeto), com estudantes do ensino médio público de todos os estados brasileiros, mostra que o Pé-de-Meia já faz parte do imaginário de milhares de jovens — como símbolo de possibilidades concretas em meio às dificuldades do dia a dia.

O impacto do programa não é apenas financeiro — é também emocional e simbólico. Mais da metade dos estudantes (53,7%) dizem que tentariam guardar o dinheiro mensal para sacar só no final do ensino médio, mesmo diante das urgências da vida. Isso mostra um desejo de futuro que vai além da sobrevivência: é sobre investimento, autonomia e escolha.

E esse desejo por autonomia financeira aparece antes mesmo do benefício chegar. Entre os jovens que ainda não participam do programa, 46,9% dizem já possuir algum tipo de poupança, e 80,8% gostariam de ter uma conta bancária para guardar dinheiro. Mesmo entre os beneficiários, que já possuem uma conta vinculada ao programa, 50,8% gostariam de ter uma poupança adicional — embora 73,7% não tenham outro tipo de reserva financeira além do Pé-de-Meia. Esses números mostram que o programa cumpre também uma função educativa: ele inaugura a relação de muitos jovens com o ato de poupar, e amplia o desejo de gerir melhor seus próprios recursos.

Quando questionados sobre o uso do valor de conclusão, os jovens mostram múltiplas realidades e prioridades: 22,7% planejam usar o dinheiro para financiar a faculdade, 16,2% para ajudar nas contas da família, e 15,1% para comprar algum objeto pessoal. Ainda assim, 32,1% dos estudantes não sabem como usarão esse dinheiro, o que revela tanto a falta de orientação quanto o fato de que muitos deles nunca tiveram a chance de planejar financeiramente seus próprios caminhos. O Pé-de-Meia é uma política poderosa — ele abre portas, garante um apoio concreto e planta a ideia de futuro. Mas, para que esse potencial se concretize de forma justa e transformadora, é essencial que venha acompanhado de educação financeira e apoio contínuo, especialmente para jovens em contextos de vulnerabilidade.

Paula ainda aguarda a chance de ser incluída no programa. “Mesmo se não for agora, quero continuar estudando. Mas se eu conseguir, vai me ajudar bastante”, diz. Sua fala traduz o sentimento de muitos jovens que veem no Pé-de-Meia uma possibilidade real de organizar o futuro. Mais do que um benefício imediato, o programa é percebido como uma ferramenta de autonomia. Mas será que os jovens estão realmente prontos para guardar, planejar e escolher com segurança? Os dados sugerem que o desejo existe — e é forte —, mas sabemos que ele precisa ser acompanhado de apoio e orientação. Só assim o Pé-de-Meia pode cumprir todo o seu potencial: não apenas como um repasse, mas como um ponto de partida para a construção de futuros mais justos, conscientes e sustentáveis.

*Atenção: A história, todos os nomes e personagens retratados nesta produção são fictícios. Nenhuma identificação com pessoas reais (vivas ou falecidas) é intencional ou deve ser inferida.