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Racismo e Percepções sobre Habilidades no Ensino Médio
Pesquisa realizada pelo Equidade.info revela como estereótipos raciais podem influenciar a autopercepção de estudantes negros.
Escrito por Felipe Soares
12:00 - 07 de Fevereiro de 2025

Fonte: Senado Federal
A desigualdade racial no Brasil vai além da distribuição de riqueza inicial. Ela impacta também o acesso ao mercado de trabalho e as possibilidades de ascensão social para grupos historicamente marginalizados. De acordo com dados do IBGE de 2021, a taxa de desemprego entre brasileiros brancos era de 11,3%, enquanto entre pretos e pardos alcançava 16,5% e 16,2%, respectivamente. Esses números evidenciam o impacto do racismo estrutural no país, que continua a afetar a vida de milhões de brasileiros negros. Entre os fatores que contribuem para essa desigualdade, destaca-se a perpetuação de estereótipos e a visão de inferioridade imposta a esses indivíduos. Nesse contexto, é útil perguntar se essas percepções já causam efeito na idade escolar – quando são formadas muitas das aspirações sobre trajetórias futuras – ou se emergem somente depois, a partir de experiências frustradas no mercado de trabalho.
Em busca de respostas para esse questionamento, o Equidade.info conduziu uma pesquisa em 17 Estados brasileiros – Acre, Amapá, Pará, Rondônia, Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina – entre dezembro de 2023 e março de 2024. O estudo buscou compreender a percepção de estudantes do Ensino Médio sobre a seguinte afirmação: “algumas atividades são melhor desenvolvidas por pessoas brancas.”
Os resultados evidenciam como estereótipos raciais ainda influenciam a forma como habilidades e competências são avaliadas. Para ilustrar esse impacto, conhecemos a história de Marcus, um jovem negro talentoso em matemática, oriundo de uma comunidade marginalizada no Acre. Após conquistar uma bolsa para estudar engenharia em uma universidade renomada, Marcus percebeu que sua competência era frequentemente questionada, enquanto colegas brancos recebiam maior reconhecimento e avançavam com mais facilidade.
Essa experiência não é isolada. Pelo contrário, reflete um ciclo que pode ter origem já nos anos escolares. Em que medida as tensões sociais e raciais, ancoradas nas desigualdades do país, são internalizadas desde a educação básica? O sistema educacional brasileiro contribui para desconstruir esses estereótipos ou acaba por reforçá-los?
A pesquisa, conduzida com uma amostra representativa de estudantes do Ensino Básico no Brasil, revelou que 11,4% dos alunos de Ensino Médio concordam com a afirmação de que brancos são superiores intelectualmente aos negros, enquanto 81,5% discordam e 6,9% não têm opinião formada.
Se essa distribuição de respostas parece encorajadora – com apenas uma minoria concordando com a afirmação –, as diferenças segundo o perfil racial dos respondentes revelam um cenário mais preocupante. Entre os alunos brancos, apenas 2% concordam com a afirmação, enquanto entre os alunos negros esse percentual sobe para 16%. Esse dado se conecta com a pesquisa de Steele e Aronson (1995), que demonstrou que afro-americanos tendem a apresentar um desempenho inferior em testes complexos quando são previamente expostos a estereótipos negativos sobre sua capacidade intelectual. No entanto, quando tais estereótipos não são mencionados antes da prova, essa diferença de desempenho deixa de ocorrer. Isso sugere que alunos negros podem estar mais propensos a internalizar estereótipos raciais, possivelmente devido a um contexto educacional que os coloca em situações de desvantagem desde o início do ciclo escolar.
Assim como Marcus, que enfrenta uma enorme auto-cobrança na sua trajetória universitária, esses dados sugerem que alunos pretos e pardos têm suas aspirações sobre trajetórias futuras prejudicadas ainda no Ensino Básico. Isso levanta questões sobre a eficácia da educação em desconstruir esses estereótipos, além de indicar a necessidade de uma educação mais inclusiva e crítica sobre o racismo estrutural.
*Atenção: A história, todos os nomes e personagens retratados nesta produção são fictícios. Nenhuma identificação com pessoas reais (vivas ou falecidas) é intencional ou deve ser inferida.
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