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A Resistência à Educação Política no Brasil
Dados do Equidade.info revelam que estudantes dos anos finais e do Ensino Médio rejeitam a educação política
Escrito por Felipe Soares
15:00 - 14 de Fevereiro de 2025

Foto: Wilson Dias/ABr
A educação política é uma das principais ferramentas para a transformação social. O pedagogo britânico Harold Entwistle, em sua obra Political Education in a Democracy, argumenta que a educação tradicionalmente preparou as elites para a participação política, enquanto os cidadãos comuns foram deixados de lado. No Brasil, se a Constituição define que a educação deve preparar os brasileiros para o exercício da cidadania, na prática, as escolas muitas vezes negligenciam essa formação. Como consequência, muitos jovens se afastam do debate público e desenvolvem rejeição à participação política, o que compromete seu engajamento democrático e enfraquece a mobilização em torno de causas como a justiça social.
Marcela, uma estudante da rede pública que via a política como um tema delicado em função de conflitos acalorados cada vez que o tema surgia nos almoços de família, acreditava que esse assunto deveria ser evitado até mesmo no ambiente escolar. Em que medida a história de Marcela é representativa dos alunos brasileiros?
Uma pesquisa conduzida pelo Equidade.info em uma amostra representativa do Ensino Básico nos 26 Estados brasileiros e no Distrito Federal, entre março e abril de 2024, endereçou essa pergunta. O estudo investigou a percepção de 1.466 estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio e de 383 professores dessas etapas sobre o debate político nas escolas.
Os resultados indicam que se 38,1% dos estudantes dessas etapas no Brasil concordam que a escola deva abordar discussões sobre política,43,6% discordam e outros 18,2% não possuem opinião formada.
Nas escolas públicas, a rejeição ao debate político é maior em comparação às privadas (45,0% vs. 27,3%). Essa diferença pode refletir as diferenças estruturais entre as instituições, como currículos mais críticos e amplos - que incluem atividades complementares como grêmio estudantil, clubes de debate, e simulações de organismos multilaterais – nas escolas privadas.
Os estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental tendem a ser mais resistentes à educação política do que aqueles do Ensino Médio (46,9% vs. 39,1%). Dito isto, apenas cerca de 4 em cada 10 alunos nessa última etapa concordam que a escola deveria abrigar esses debates. Nos termos de Entwistle, essa lacuna representa uma ameaça à participação cidadã.
Entre os professores, 65,1% concordam que a escola deve abordar a educação política, enquanto 23,2% discordam. Em contraste com as respostas dos estudantes, a proporção de professores da rede privada contrária à educação política na escola é bem maior que entre aqueles da rede pública (46,6% vs. 21,3%). Por que a maior abertura do corpo docente para a educação política no ambiente escolar não se transmite aos alunos na mesma proporção? Essa pergunta provoca reflexões e motiva caminhos para pesquisas futuras.
A ausência de debates políticos no ambiente escolar pode levar estudantes a interpretarem a política como um tema problemático, assim como ocorreu com Marcela. Se trabalhada de forma reflexiva e crítica, a educação política poderia transformar a percepção dos alunos, garantindo que não apenas as elites, mas também grupos historicamente marginalizados tenham espaço na construção política do país. Dessa forma, as escolas cumpririam seu papel de formar cidadãos ativos e conscientes, ampliando a diversidade de vozes na esfera pública, como enfatiza Entwistle e como já antecipa Paulo Freire.
*Atenção: A história, todos os nomes e personagens retratados nesta produção são fictícios. Nenhuma identificação com pessoas reais (vivas ou falecidas) é intencional ou deve ser inferida.